terça-feira, 1 de maio de 2018

O inicio do silêncio - Sorius


Palavras no Silêncio capitulo 1

"Pequeno trecho retirado do diário de Sorius, aluna de alquimia do terceiro ano nas Florestas Ocultas"

Querido diário

O dia de hoje foi com toda a certeza o dia mais estranho, bizarro e totalmente maluco que já aconteceu por aqui. Na verdade, agora mesmo enquanto escrevo essas palavras ainda não estou acreditando que estamos passando por isso ou se é tudo um sonho muito doido da minha cabeça.
Começou assim, era um dia normal como qualquer outro. Acordei cansadona da noite passada em que tinha levado horas reescrevendo os textos antigos sobre fungo mágico até desmaiar. Até aí tudo bem. Joguei uma água no rosto comi o que eu achei aqui na cabana e sai.
Daí que começou a ficar estranho, olhei para o céu e percebi que devia ser mais ou menos meio dia. Meio dia acredita. Está certo que gosto de dormir, gosto muito de dormir, mas nunca até tão tarde, até por que ninguém me deixa dormir até tarde aqui.  A aula da manhã já devia estar acabando e minha professora Sandry ia me matar por não ter ido. Geralmente eu acordava com o galo cantando logo cedo ou na pior das hipóteses minha amiga Lia ou o Cristiam me acordavam, mas hoje nada.
Estava meio sonolenta ainda então demorei a perceber que só tinha eu por ali. Não tinha ninguém nas ruas ou nas cabanas, nem mesmo as crianças ou alquimistas que deveriam estar aí a essa hora. Estava tudo quieto, quieto até demais. E em todos os 15 anos que ela estava ali, nunca viu a floresta quieta dessa forma. Mas como ainda estava meio sonolenta no momento, acabei nem me atentando a esse fato. Tudo parecia demais um sonho até então.
Peguei minhas coisas e desesperada corri até a biblioteca, só para chegar lá sem fôlego nenhum e perceber que também não tinha ninguém. Nessa hora diário, bateu o desespero em mim. Pensei coisas horríveis. Será que fomos roubados, que alguém entrou aqui e raptou todo mundo. Ou será que todo mundo foi embora e me deixou para trás. Comecei a gritar chamando as pessoas que eu conhecia, mas aí que entra a parte mais bizarra, você não vai nem acreditar. Mas não saiu nada. Nada de nada, eu estava muda, não conseguia falar. Era como se estivesse envolto em uma enorme bolha por onde nenhum som podia passar. E o desespero me tomou mais ainda quando percebi que além de não falar não podia ouvir também. Não era a floresta que estava que estava silênciosa demais, era eu que estava surda mesmo.
Desabei no chão da biblioteca e comecei a chorar desesperada por algum tempo, até que me veio à mente a única pessoa que poderia me ajudar nessa hora, e torci e roguei a Aurix que ele não tivesse desaparecido também.
Rapidamente sequei as lágrimas com a manga da blusa e corri mais um pouco até a casa do grande Mago.
E quando cheguei, para o meu alivio, me deparei com todo mundo ali. Na porta da casa do grande Mago estavam todos os alquimistas, pesquisadores, curandeiros e crianças que viviam nas florestas. Todos extremamentes concentrados e atentos a alguma coisa acima da colina próximo a robusta casa de madeira.
E ali estava o grande mago, de cabelos longos e grisalhos e barba comprida, sinalizando alguma coisa para as pessoas na linguagem de sinais. Meu coração estava batendo forte e estava suando por conta da corrida até ali, mas ao ver todos ali fui ficando mais calma aos poucos.
Próximo ao grande mago estava minha professora, Sandry, que estava rapidamente traduzindo tudo que o mago sinalizava para uma lousa improvisada que ela deve ter tirado da nossa sala de aula na biblioteca. 
E claro, como em toda reunião importante, tinha um escriba no fundo registrando tudo, pra colocar no livro de registros do ano. Nunca entendi o por que precisávamos registrar tudo o que acontecia, mas isso não me importava agora.
O que importava era manter minha atenção nas palavras sinalizadas pelas mãos de meu professor e buscar nelas alguma explicação para o que estava acontecendo ali e por que eu e aparentemente ninguém ali parecia conseguir ouvir ou falar uma única palavra sequer.

...


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