Palavras no Silêncio capitulo 1
"Pequeno trecho retirado do diário de Sorius, aluna de alquimia do terceiro ano nas Florestas Ocultas"
Querido diário
O dia de hoje foi com toda a certeza o dia mais estranho, bizarro
e totalmente maluco que já aconteceu por aqui. Na verdade, agora mesmo enquanto
escrevo essas palavras ainda não estou acreditando que estamos passando por isso
ou se é tudo um sonho muito doido da minha cabeça.
Começou assim, era um dia normal como qualquer outro.
Acordei cansadona da noite passada em que tinha levado horas reescrevendo os
textos antigos sobre fungo mágico até desmaiar. Até aí tudo bem. Joguei uma
água no rosto comi o que eu achei aqui na cabana e sai.
Daí que começou a ficar estranho, olhei para o céu e percebi
que devia ser mais ou menos meio dia. Meio dia acredita. Está certo que gosto
de dormir, gosto muito de dormir, mas nunca até tão tarde, até por que ninguém me deixa dormir até
tarde aqui. A aula da manhã já devia
estar acabando e minha professora Sandry ia me matar por não ter ido. Geralmente
eu acordava com o galo cantando logo cedo ou na pior das hipóteses minha amiga
Lia ou o Cristiam me acordavam, mas hoje nada.
Estava meio sonolenta ainda então demorei a perceber que só
tinha eu por ali. Não tinha ninguém nas ruas ou nas cabanas, nem mesmo as
crianças ou alquimistas que deveriam estar aí a essa hora. Estava tudo quieto,
quieto até demais. E em todos os 15 anos que ela estava ali, nunca viu a floresta quieta dessa forma. Mas como ainda estava meio sonolenta no momento, acabei nem me atentando a esse fato. Tudo parecia demais um sonho até então.
Peguei minhas coisas e desesperada corri até a biblioteca,
só para chegar lá sem fôlego nenhum e perceber que também não tinha ninguém.
Nessa hora diário, bateu o desespero em mim. Pensei coisas horríveis. Será que
fomos roubados, que alguém entrou aqui e raptou todo mundo. Ou será que todo
mundo foi embora e me deixou para trás. Comecei a gritar chamando as pessoas
que eu conhecia, mas aí que entra a parte mais bizarra, você não vai nem
acreditar. Mas não saiu nada. Nada de nada, eu estava muda, não conseguia
falar. Era como se estivesse envolto em uma enorme bolha por onde nenhum som podia passar. E o desespero me tomou mais ainda quando percebi que além de não falar
não podia ouvir também. Não era a floresta que estava que estava silênciosa demais, era eu que
estava surda mesmo.
Desabei no chão da biblioteca e comecei a chorar desesperada
por algum tempo, até que me veio à mente a única pessoa que poderia me ajudar
nessa hora, e torci e roguei a Aurix que ele não tivesse desaparecido também.
Rapidamente sequei as lágrimas com a manga da blusa e corri
mais um pouco até a casa do grande Mago.
E quando cheguei, para o meu alivio, me deparei com todo
mundo ali. Na porta da casa do grande Mago estavam todos os alquimistas, pesquisadores, curandeiros e crianças que viviam nas florestas. Todos extremamentes concentrados e atentos a alguma coisa acima da colina próximo a robusta casa de madeira.
E ali estava o grande mago, de cabelos longos e grisalhos e
barba comprida, sinalizando alguma coisa para as pessoas na linguagem de sinais. Meu coração estava batendo forte e estava
suando por conta da corrida até ali, mas ao ver todos ali fui ficando mais
calma aos poucos.
Próximo ao grande mago estava minha professora, Sandry, que
estava rapidamente traduzindo tudo que o mago sinalizava para uma lousa improvisada
que ela deve ter tirado da nossa sala de aula na biblioteca.
E claro, como em toda reunião importante, tinha um escriba
no fundo registrando tudo, pra colocar no livro de registros do ano. Nunca
entendi o por que precisávamos registrar tudo o que acontecia, mas isso não me
importava agora.
O que importava era manter minha atenção nas palavras sinalizadas pelas mãos de meu professor e buscar nelas alguma explicação para o que
estava acontecendo ali e por que eu e aparentemente ninguém ali parecia
conseguir ouvir ou falar uma única palavra sequer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário