O mensageiro capito 1
Data: Segunda-feira, 18 de junho de 241, Era dos Reis
E como se o dia não pudesse piorar isso vai la e acontece.Já estava exausto nas últimas semanas. Passava a noite toda depois dos trabalhos na taverna da cidade bebendo e ouvindo trovadores cantando melosas músicas de amor, histórias de aventura e poemas aleatórios.
Qualquer amigo meu ou conhecido que me visse nesse estado não me reconheceria. Sempre fui muito animado, correndo, gritando e zoando a todos que via, mas agora não passava de mais um bebum depressivo fedendo a bebida.
Desde criança, sempre sonhei com o dia em que sairia dali e viveria longas aventuras viajando pelo mar e protegendo Aurix dos invasores ao lado dos Guerreiros do Mar. Assim como quase toda criança nascida no reino de Froes. Eles eram incríveis e sempre passavam aqui nesse fim de mundo pra encher a nossa mente com fascinantes histórias sobre monstros do mar, terras desconhecidas e aventuras épicas que acabavam inspirando poetas e trovadores com suas histórias.
Inclusive, estavam cantando uma dessas agora. Algo sobre uma aventura em uma ilha deserta cercada de dragões dos mares.
Não resisti e só de raiva joguei a caneca na direção da cabeça do cara que tava cantando. Um sujeito baixinho chamado Eric. Que acabou desviando facilmente.
-Ei, qual é o seu problema cara? - Perguntou o trovador descendo do pequeno palco e vindo em minha direção.
-Calma. - Disse John o meu amigo dono da taverna - ele só não esta muito bem ultimamente.
-Isso não é motivo para tentar quebrar minha cabeça. - Gritou Eric zangado. -Se não gosta das minhas músicas pode falar.
John segurou ele antes que ele acertasse a minha cabeça com o Alaúde e depois sussurrou algo no ouvido dele, que como eu estava perto acabei ouvindo também.
-"Ele esta assim por que foi rejeitado pelos Guerreiros do Mar a algumas semanas."
E era verdade. Infelizmente. Completei 21 anos em Abril e já poderia me candidatar a Guerreiro do Mar como sempre sonhei. Mas não consegui entrar por um detalhe minusculo. Eu ficava enjoado com o balanço do mar. Sério? Só por causa dessa coisinha de nada?
-Desculpa ai amigão. - Disse Eric calmamente. - Vamos tocar outra coisa. O que acha de "A cidade que tudo vê"?
-Não. Tudo bem - Eu disse me levantando. - Pode continuar o que estava tocando antes. O pessoal estava animado. Me desculpe por aquilo.
Ainda com a cabeça baixa e sem olhar no rosto de ninguém andei em direção a saída.
-Coloque tudo na minha conta John. Amanhã eu pago. - Disse saindo e fechando a porta.
Quando já estava na praça central perto de casa ouvi ao longe a música recomeçar. Até que o garoto cantava bem. Mas nem mesmo a sua animação e o violino ao fundo conseguiam me animar.
Sentei num banco de madeira ali perto e fiquei observando o mar ao longe. Enquanto o sol nascia no horizonte.
-Bom dia Thaus. - Disse uma voz atras de mim. - Como anda se sentindo?
Era o senhor Dolaran. Um velho nobre que vivia aqui na pequena cidade de Carkas. Antigamente Dolaran era um dos cavaleiros da cidade de Roklua ao norte. Mas se aposentou após perder um dos braços para uma aranha gigante na floresta (Bom, pelo menos foi o que ele diz, mas ninguém acredita). E hoje passa os seus dias pescando e conversando com os moradores.
-Estou bem Dol. Como andam as coisas? - Perguntei por educação mesmo.
-Bem, bem. Muito bem. - Invejava a felicidade daquele velho. - Tenho um trabalho para você meu amigo.
-Pode mandar. O que é? - Não estava nem um pouco com vontade de trabalhar. Mas lembrei que precisava de dinheiro para comprar mais bebida.
-Preciso de uns equipamentos novos de pesca. Ouvi dizer que inventaram umas coisas legais recentemente na cidade de Froes e queria que você comprasse pra mim. Te dou duas moedas de ouro.
Froes não era tão longe. Era a cidade capital do nosso reino, onde ficava o rei e tals. Meio dia de caminhada de Carkas. E Dolaran estava me pagando bem pra isso então até me animei um pouco.
-Esta bem. Vou pegar meu cavalo e já saio.
-Maravilha. Sabia que podia contar com você Thaus.
...
Depois de quatro horas na estrada de cavalo. Parei para descansar e comer um pouco de pão e água que tinha trazido.
A estrada tinha me feito bem. Deu para dar uma animada e estava quase aceitando o fato de que nunca seria um Guerreiro do Mar. "Bom, passar o resto da vida como entregador e vendedor de peixe não deve ser tão ruim quanto imaginei". Menti para mim mesmo. Fazer o que? Uma hora eu ia ter que acabar aceitando a realidade.
Meu cavalo relinchou e balançou a cabeça como se estivesse concordando com meus pensamentos.
-É meu amigo de quatro patas, parece que vamos continuar juntos vendendo peixe por um bom tempo ainda.- Eu disse enquanto acariciava seu pescoço.
De repente ele levantou a cabeça e começou a olhar para os lados como se tivesse ouvido alguma coisa.
E depois de um tempo também ouvi. Era o trote rápido e continuo de um cavalo se aproximando pela estrada. O que era totalmente comum já que essa era a estrada mais rápida entre Carkas e Froes.
Olhei em direção ao som e vi um cavalo negro galopando rápido como se tivesse fugindo de alguma coisa. E parecia muito assustado. Coloquei a mão sobre a espada curta que carregava e esperei ele se aproximar.
Quando chegou mais perto, percebi que havia alguém em cima do cavalo, mas estava desacordado. "Será uma armadilha?" Perguntei em pensamento. E mais uma vez meu cavalo relinchou baixo. Não tenho certeza se isso foi um sim ou um não.
Quando o cavalo chegou a minha frente estendi as mãos na frente dele, peguei as amarras e o fiz parar. O animal se apoiou nas duas patas traseiras e se levantou quase me acertando e derrubando o cavaleiro no chão.
-Calma garoto, calma. O perigo já passou. - Tentei tranquilizar dando um pedaço de pão para o animal.
O cavaleiro estava deitado no chão e continuava desacordado. As roupas eram simples e estavam todas sujas de terra e acho que um pouco de sangue. Provavelmente se meteu em uma briga com ladrões na floresta e acabou escapando por pouco. Por muito pouco.
Olhei para o meu cavalo e perguntei:
-Eai garoto. O que acha? Devemos ajudar?
Ele apenas relinchou novamente e desviou o olhar.
E infelizmente ele estava certo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário