O mensageiro capitulo 5
Data: Segunda-feira, 18 de junho de 241, Era dos Reis
A cidade era enorme. As ruas eram largas e em cada esquina tinham pessoas vendendo armas, armaduras ou escudos. Roklua era a cidade do elemento fogo, que segundo Aurix era o elemento da proteção. Então seus habitantes acabaram se especializando nisso. É nela que são treinados os melhores guerreiros de todo o continente.
Outra coisa que se via muito por ali eram brigas. Em quase toda taverna ou praça que passávamos tinha alguém brigando. E não era qualquer briga, eram brigas de quebrar ossos e tirar sangue. E a pequena garota que me acompanhava não parecia se importar, pelo contrário, se divertia e ainda ficava gritando coisas como "Acerta ele direito" ou "Quebra esse braço logo". Aparentemente não tinha ninguém normal por ali.
Levamos mais ou menos uma hora para cruzar a cidade e toda a sua confusão e brigas. Até que finalmente chegamos perto do castelo.
-Aqui está. - Disse a menina pegando o pequeno pedaço de papel de dentro da bolsa no cavalo e entregando para mim. - Entregue a mensagem para o rei e somente para ele. Isso é muito importante.
Olhei para ela assustado e depois em direção ao castelo.
-Como assim? Como você sabe sobre... - Quando olhei de volta ela já não estava mais na minha frente. Fiquei procurando ela de um lado para o outro com os olhos, mas ela simplesmente tinha desaparecido.
Mas como ela sabia? Não me lembro de em nenhum momento ter mencionado a mensagem. Será que ela é algum tipo de bruxa? Sim, ela com certeza é uma bruxa. Com aquela cara de atentada só podia ser mesmo.
Bom, só me restava continuar em frente então. Deixei meu cavalo nos estábulos ali perto e fui em direção a entrada do castelo.
Os soldados a porta já começaram a me olhar estranho enquanto me aproximava, como se estivessem me avaliando dos pés à cabeça. Até que enfim me apresentei.
-Estou vindo diretamente do reino de Froes. Tenho uma mensagem muito importante para o rei.
-Sim mensageiro. Estávamos a sua espera. Pode entrar.
Nem pra perguntar se a viagem foi boa, se tive problemas ou se quero um pouco de água. Onde está a educação das pessoas daqui?
Entrei no castelo e me deparei com um belo jardim de entrada. Cheio de flores e árvores que em maior parte eu nunca tinha encontrado antes. Um cenário totalmente diferente da bagunça ali fora.
Ao perceber a minha presença, um cavaleiro se aproximou para me cumprimentar.
-Você deve ser o mensageiro. - Disse ele. -Eu te guiarei até o palácio, o rei o está esperando.
Eu estava boquiaberto. Não podia acreditar no que meus olhos estavam vendo. O cavaleiro tinha olhos claros azuis, cabelos castanhos compridos até o ombro, vestia uma meia armadura e roupas azuis com o símbolo de Roklua e carregava duas espadas feitas de cristal. Eu já ouvi histórias sobre ele. Na verdade, já ouvi muitas histórias sobre ele. Baker das lâminas de cristal era como chamavam os trovadores. Foi um jovem herói que conquistou o título de cavaleiro após várias batalhas salvando a vida da família real. O cara era simplesmente uma lenda viva.
-Tu...Tudo bem. - Gaguejei.
Seguimos em frente em direção ao palácio sem dizer uma única palavra.
Era estranho, mas de alguma forma, parece que eu já tinha encontrado esse cara antes.
Chegamos então ao palácio de fogo. Havia dois cavaleiros guardando a porta enquanto conversavam, mas pararam ao nos ver se aproximando. Fizeram uma reverencia a lenda junto comigo e nos deixaram entrar.
Pouco tempo depois andando dentro do castelo foi que percebi a verdade. Eu sabia da onde conhecia ele. O cabelo castanho, os olhos azuis e as duas espadas. Estava tão chocado por conhecer o grande Baker que nem havia percebido. Ele era um dos caras de capuz na floresta mais cedo.
Coloquei a mão sobre a minha espada só por precaução e comecei a andar mais cauteloso, o que ele provavelmente percebeu.
-Não é aconselhável puxar essa espada na presença do rei. - Ele disse sem olhar para mim.
-Eu... Eu sei quem você é. -Eu disse irritado, mas me acalmei. Não queria causar uma confusão no meio do palácio agora, e ao que parece ele também não.
Ele apenas virou o rosto para mim e deu um sorriso, depois fez o sinal de silêncio colocando o dedo indicador nos lábios. Quem diria que o grande herói de Roklua sequestrava crianças indefesas na floresta em suas horas vagas.
-Estamos chegando a sala do trono o rei o espera lá. - Ele disse por fim.
Chegamos então a tal sala que ficava atrás de uma porta enorme de madeira. Baker entrou pelas portas e anunciou a minha chegada ao rei.
-Rei Eldor. Ele está aqui.- Disse com uma reverencia.
Que duas caras. Fingindo ser bonzinho para a família real enquanto comete crimes quando eles não estão por perto.
O rei Eldor de Roklua a minha frente era um homem forte e com cara de mau humorado. Vestia uma túnica azul e roupas que provavelmente custavam o olho da cara para alguém como eu. Tinha a aparência de um formidável guerreiro, digno de todas as histórias contadas sobre ele.
Ao seu lado direito tinha uma bela mulher de cabelos castanhos que me olhava com um sorriso. Usava um vestido azul da mesma cor da túnica do rei e uma coroa de prata sobre a cabeça. Se não me falha a memória eu estava olhando para a rainha Elys. Mas se bem que pela aparência jovem e belo sorriso poderia ser também a filha do rei, a princesa Cassandra.
Havia um terceiro trono vago a esquerda do rei que provavelmente seria da princesa ou da rainha dependendo de quem seja a mulher da direita.
-Você trouxe a mensagem? - Perguntou o rei Eldor me encarando com cara de mal.
-Sim. Está aqui. - Mostrei o pedaço de papel a ele.
-Bom. -Ele disse -Você fez um bom trabalho meu jovem. Qual seu nome?
-Me chamo Thaus vossa majestade. Sou da cidade de Carkas.
Estava cada vez mais curioso. O que será que tem de tão importante nesse pedaço de papel.
-Muito bem Thaus de Carkas. Você poderia...
Nesse momento o rei foi interrompido quando uma das portas laterais se abriu com força. E de lá saiu uma jovem com um vestido azul celeste e os cabelos todos bagunçados. Uma certa jovem de cabelos castanhos que eu conhecia muito bem.
-Chegueeeeeiii. Sentiram saudades? - Gritou ela andando em direção ao rei e se sentando no trono vazio à esquerda.
Não acreditava no que estava vendo. A delinquente era a princesas Cassandra. Como é possível? Estava totalmente diferente de quando desapareceu na frente do castelo a pouco. Estava bem vestida, com a pele limpa e as bandagens nas mãos desapareceram. Ou será que ela tinha alguma irmã gêmea que eu não sabia.
Olhei para Baker que estava a direita da rainha. Que parecia estar se divertindo com a minha cara de confusão total. Que cara doente. Ele estava tentando sequestrar a princesa. Enquanto paga de bonzinho para o reto do mundo. Ele ia ver só quando eu sai-se dali.
A princesa delinquente sussurrou algo no ouvido do pai que ouviu atentamente e assentiu com a cabeça. Depois deu um sorriso e um aceno de mão para o cavaleiro sequestrador ao lado. Será que ela não tinha percebido ainda que ele era um cara mal.
O rei voltou sua atenção a mim novamente dizendo:
-Então Thaus de Carkas. Você poderia ler a mensagem para nós. - Pediu com um ar de indiferença.
-Cla... Claro vossa majestade. -E gaguejei.
Peguei o papel e o desdobrei. Tinha apenas duas linhas escritas e o selo real a direita com a assinatura do rei Eldor. Algo que me deixou mais confuso do que eu já estava. Mas, após ler a mensagem tudo começou a fazer um pouco mais de sentido.
Meus parabéns a você Thaus de Carkas.
Você passou em todos os nossos testes e foi aceito como aprendiz de cavaleiro na cidade Roklua.
Atenciosamente Rei Eldor