terça-feira, 11 de setembro de 2018

A mensagem

O mensageiro capitulo 5


Data: Segunda-feira, 18 de junho de 241, Era dos Reis

A cidade era enorme. As ruas eram largas e em cada esquina tinham pessoas vendendo armas, armaduras ou escudos. Roklua era a cidade do elemento fogo, que segundo Aurix era o elemento da proteção. Então seus habitantes acabaram se especializando nisso. É nela que são treinados os melhores guerreiros de todo o continente.
Outra coisa que se via muito por ali eram brigas. Em quase toda taverna ou praça que passávamos tinha alguém brigando. E não era qualquer briga, eram brigas de quebrar ossos e tirar sangue. E a pequena garota que me acompanhava não parecia se importar, pelo contrário, se divertia e ainda ficava gritando coisas como "Acerta ele direito" ou "Quebra esse braço logo". Aparentemente não tinha ninguém normal por ali.
Levamos mais ou menos uma hora para cruzar a cidade e toda a sua confusão e brigas. Até que finalmente chegamos perto do castelo.
-Aqui está. - Disse a menina pegando o pequeno pedaço de papel de dentro da bolsa no cavalo e entregando para mim. - Entregue a mensagem para o rei e somente para ele. Isso é muito importante.
Olhei para ela assustado e depois em direção ao castelo.
-Como assim? Como você sabe sobre... - Quando olhei de volta ela já não estava mais na minha frente. Fiquei procurando ela de um lado para o outro com os olhos, mas ela simplesmente tinha desaparecido.
Mas como ela sabia? Não me lembro de em nenhum momento ter mencionado a mensagem. Será que ela é algum tipo de bruxa? Sim, ela com certeza é uma bruxa. Com aquela cara de atentada só podia ser mesmo.
Bom, só me restava continuar em frente então. Deixei meu cavalo nos estábulos ali perto e fui em direção a entrada do castelo.
Os soldados a porta já começaram a me olhar estranho enquanto me aproximava, como se estivessem me avaliando dos pés à cabeça. Até que enfim me apresentei.
-Estou vindo diretamente do reino de Froes. Tenho uma mensagem muito importante para o rei.
-Sim mensageiro. Estávamos a sua espera. Pode entrar.
Nem pra perguntar se a viagem foi boa, se tive problemas ou se quero um pouco de água. Onde está a educação das pessoas daqui?
Entrei no castelo e me deparei com um belo jardim de entrada. Cheio de flores e árvores que em maior parte eu nunca tinha encontrado antes. Um cenário totalmente diferente da bagunça ali fora.
Ao perceber a minha presença, um cavaleiro se aproximou para me cumprimentar.
-Você deve ser o mensageiro. - Disse ele. -Eu te guiarei até o palácio, o rei o está esperando.
Eu estava boquiaberto. Não podia acreditar no que meus olhos estavam vendo. O cavaleiro tinha olhos claros azuis, cabelos castanhos compridos até o ombro, vestia uma meia armadura e roupas azuis com o símbolo de Roklua e carregava duas espadas feitas de cristal. Eu já ouvi histórias sobre ele. Na verdade, já ouvi muitas histórias sobre ele. Baker das lâminas de cristal era como chamavam os trovadores. Foi um jovem herói que conquistou o título de cavaleiro após várias batalhas salvando a vida da família real. O cara era simplesmente uma lenda viva.
-Tu...Tudo bem. - Gaguejei.
Seguimos em frente em direção ao palácio sem dizer uma única palavra.
Era estranho, mas de alguma forma, parece que eu já tinha encontrado esse cara antes.
Chegamos então ao palácio de fogo. Havia dois cavaleiros guardando a porta enquanto conversavam, mas pararam ao nos ver se aproximando. Fizeram uma reverencia a lenda junto comigo e nos deixaram entrar.
Pouco tempo depois andando dentro do castelo foi que percebi a verdade. Eu sabia da onde conhecia ele. O cabelo castanho, os olhos azuis e as duas espadas. Estava tão chocado por conhecer o grande Baker que nem havia percebido. Ele era um dos caras de capuz na floresta mais cedo.
Coloquei a mão sobre a minha espada só por precaução e comecei a andar mais cauteloso, o que ele provavelmente percebeu.
-Não é aconselhável puxar essa espada na presença do rei. - Ele disse sem olhar para mim.
-Eu... Eu sei quem você é. -Eu disse irritado, mas me acalmei. Não queria causar uma confusão no meio do palácio agora, e ao que parece ele também não.
Ele apenas virou o rosto para mim e deu um sorriso, depois fez o sinal de silêncio colocando o dedo indicador nos lábios. Quem diria que o grande herói de Roklua sequestrava crianças indefesas na floresta em suas horas vagas.
-Estamos chegando a sala do trono o rei o espera lá. - Ele disse por fim.
Chegamos então a tal sala que ficava atrás de uma porta enorme de madeira. Baker entrou pelas portas e anunciou a minha chegada ao rei.
-Rei Eldor. Ele está aqui.- Disse com uma reverencia.
Que duas caras. Fingindo ser bonzinho para a família real enquanto comete crimes quando eles não estão por perto.
O rei Eldor de Roklua a minha frente era um homem forte e com cara de mau humorado. Vestia uma túnica azul e roupas que provavelmente custavam o olho da cara para alguém como eu. Tinha a aparência de um formidável guerreiro, digno de todas as histórias contadas sobre ele.
Ao seu lado direito tinha uma bela mulher de cabelos castanhos que me olhava com um sorriso. Usava um vestido azul da mesma cor da túnica do rei e uma coroa de prata sobre a cabeça. Se não me falha a memória eu estava olhando para a rainha Elys. Mas se bem que pela aparência jovem e belo sorriso poderia ser também a filha do rei, a princesa Cassandra.
Havia um terceiro trono vago a esquerda do rei que provavelmente seria da princesa ou da rainha dependendo de quem seja a mulher da direita.
-Você trouxe a mensagem? - Perguntou o rei Eldor me encarando com cara de mal.
-Sim. Está aqui. - Mostrei o pedaço de papel a ele.
-Bom. -Ele disse -Você fez um bom trabalho meu jovem. Qual seu nome?
-Me chamo Thaus vossa majestade. Sou da cidade de Carkas.
Estava cada vez mais curioso. O que será que tem de tão importante nesse pedaço de papel.
-Muito bem Thaus de Carkas. Você poderia...
Nesse momento o rei foi interrompido quando uma das portas laterais se abriu com força. E de lá saiu uma jovem com um vestido azul celeste e os cabelos todos bagunçados. Uma certa jovem de cabelos castanhos que eu conhecia muito bem.
-Chegueeeeeiii. Sentiram saudades? - Gritou ela andando em direção ao rei e se sentando no trono vazio à esquerda.
Não acreditava no que estava vendo. A delinquente era a princesas Cassandra. Como é possível? Estava totalmente diferente de quando desapareceu na frente do castelo a pouco. Estava bem vestida, com a pele limpa e as bandagens nas mãos desapareceram. Ou será que ela tinha alguma irmã gêmea que eu não sabia.
Olhei para Baker que estava a direita da rainha. Que parecia estar se divertindo com a minha cara de confusão total. Que cara doente. Ele estava tentando sequestrar a princesa. Enquanto paga de bonzinho para o reto do mundo. Ele ia ver só quando eu sai-se dali.
A princesa delinquente sussurrou algo no ouvido do pai que ouviu atentamente e assentiu com a cabeça. Depois deu um sorriso e um aceno de mão para o cavaleiro sequestrador ao lado. Será que ela não tinha percebido ainda que ele era um cara mal.
O rei voltou sua atenção a mim novamente dizendo:
-Então Thaus de Carkas. Você poderia ler a mensagem para nós. - Pediu com um ar de indiferença.
-Cla... Claro vossa majestade. -E gaguejei.
Peguei o papel e o desdobrei. Tinha apenas duas linhas escritas e o selo real a direita com a assinatura do rei Eldor. Algo que me deixou mais confuso do que eu já estava. Mas, após ler a mensagem tudo começou a fazer um pouco mais de sentido.

Meus parabéns a você Thaus de Carkas.
Você passou em todos os nossos testes e foi aceito como aprendiz de cavaleiro na cidade Roklua.
Atenciosamente Rei Eldor

Fim


segunda-feira, 10 de setembro de 2018

A garota de cabelos castanhos

O mensageiro capito 4

Data: Segunda-feira, 18 de junho de 241, Era dos Reis

-Você disse que era um cavaleiro de Roklua. É verdade?
A voz vinha de cima, e ao olhar em sua direção vi garota pendurada de cabeça para baixo em um galho de árvore me observando.
-A... sim....Claro. - Gaguejei. - Sou sir Thaus.
-Sério? - Ela perguntou animada.
-Não. -Odiava acabar com a felicidade de uma criança. -Só disse isso pra assustar aqueles caras.
-Ah, entendi. - Disse ela pulando da árvore e caindo de pé no chão. - Mas você bem que tem cara.
-Sério? - Nunca tinha pensado nisso. - Mas me diz ai garota. O que você está fazendo sozinha na floresta?
-Tava caçando rã. - Disse ela olhando para os lados. - Você não viu nenhuma por aqui não né?
-Não. Eu... Acho que não.
-Que chato. Também não achei nenhuma.
-Você mora em Roklua não é mesmo?
-Sim. É vinte minutos andando pra lá. - Disse ela apontando para a estrada. A cidade estava mais perto do que eu imaginava.
-O que me diz de me mostrar o caminho? Daí um faz companhia para o outro.
-Ta bom. Pegue o seu cavalo. -Disse apontando para trás da árvore onde eu o tinha deixado. Ela tinha bons olhos, mesmo um observador treinado não teria percebido ele ali.
Assobiei chamando ele para perto e o animal foi andando lentamente em nossa direção.
-Ele é bem esperto não é? - Perguntou ela. - Da pra ver que você cuida bem dele.
-Obrigado, quer montar? - Ela fez que sim com a cabeça e eu em resposta peguei ela pela cintura e coloquei em cima do cavalo.
Ela de alguma forma parecia acostumada a cavalgar e a pestinha sem avisar nem nada fez um movimento com as redes que fez o animal começar a correr do nada.
-Ei! Me espere ai! - Gritei enquanto corria atrás dos dois.
E foi ai que eu lembrei o porquê de eu não gostar de crianças.
-Você é muito lento. Corre mais. - Gritou ela ao longe e continuou a galopar.
E continuamos assim por um bom tempo até que ela parou e pulou do cavalo.
-O que... O que você... Acha que está fazendo? - Perguntei enquanto recuperava o folego.
-Só me divertindo. - Disse a pestinha com um sorriso enquanto acariciava os pelos negros do animal. - O cavalo é bom. Continue cuidando bem dele.
-Não é seguro ficar fazendo tanto barulho. Aqueles bandidos podem nos ouvir.
-Não se preocupe com eles. Já devem estar na cidade agora.
-Na cidade. Por que eles estariam na cidade?
-Só um palpite. - Disse com mais um sorriso. -Me diz ai Thaus. Da onde você é?
-Uma cidadezinha no reino de Froes chamada Carkas.
-Nunca ouvi falar. E o rei de vocês? Como é?
Não entendi o porquê da conversa mas continuei respondendo. Crianças são estranhas.
-Acho que ele é normal. Igual a todo o rei. Forte, generoso e alto. Pelo menos é isso que todos dizem.
-Que sorte. O nosso é um chato total. É chatoooo até demais. Tem uma barba malfeita que ele não tira faz séculos e vive bravo dando ordens. - Disse a garota rindo e imitando uma espécie de ogro com o corpo.
Será que ela sabe que pode ser exilada por dizer essas coisas?
-Tenho certeza que é um bom rei. -Eu disse sério.
-É nada. Quando você o conhecer você vai ver.
-Você conhece o rei de Roklua?
-Dã. Por isso que disse que é um chato. Vamos andando, cansei de ficar parada.
Continuamos seguindo a estrada em direção a cidade e fiz questão de ter certeza que ela não subiria no meu cavalo de novo.
Ela devia ter no máximo uns dez ou onze anos. Tinha roupas simples todas esfarrapadas e encardidas que fediam a algo estragado. Bandagens nas mãos no mesmo estado e se comportava como uma delinquente. Provavelmente era filha de algum negociante, padeiro, ferreiro ou coisa do tipo. Fiquei me perguntando, como uma garota assim conhece alguém tão importante como um rei.
Não demorou muito. Na verdade, não demorou mais quase nada e já consegui ver algumas construções de pedra ao longe.
-Chegamos. - Disse a menina.
Ela era mais linda do que eu tinha ouvido nas histórias. Muralhas de pedra reforçadas, casas de tijolos, bandeiras azuis com uma chama no meio que era o símbolo da cidade e um castelo maior do que qualquer coisa que eu já tinha visto na vida. Duas vezes maior que o de Froes.
E esta, era com toda a certeza, a incrível cidade Roklua.

...


Problemas na estrada

O mensageiro capito 3

Data: Quinta-feira, 21 de junho de 241, Era dos Reis

Já estava quase chegando ao meu destino. Eu acho. Se tudo corresse bem, e eu estivesse cavalgando pela direção certa. Então provavelmente no dia seguinte, ao amanhecer eu já estaria vendo as grandes muralhas que cercam a cidade Roklua e as incríveis torres do castelo que tanto ouvi falar por viajantes e trovadores.
Minha jornada foi tranquilo? Não. Nem um pouco. Não via a hora de entregar logo a porcaria da mensagem e voltar pra minha terrinha no meio do nada.
Em apenas três dias fui quase roubado por bandidos na floresta, atacado por insetos de fogo com algum tipo de veneno paralisante, perseguido por lobos e pisado em merda de cavalo (Obrigado por isso amigão).
E o pior não era nem isso. Sabe aquela sensação de estar constantemente sendo vigiado? Pois é. Estou sentindo isso desde que sai de Carkas. Como se alguém estivesse seguido meus passos no meio das sombras. Provavelmente só paranoia da minha cabeça mesmo. Mas continuei atento quase que o caminho todo durante os primeiros dias.
Mas só de pensar que isso estava para acabar eu já me animava. Quem sabe o rei se animava com a mensagem e me oferecesse um banquete com bastante comida e bebidas. Ou alguns dias de descanso no castelo também não seria ruim.
E enquanto eu me perdia em meus pensamentos sonhando alto. Meu cavalo ouviu alguma coisa suspeita e parou no meio da estrada, o que me fez voltar para a realidade. Mal sinal. Sempre que ele faz isso algo de ruim está para acontecer. Da última vez foram os lobos e os insetos de fogo.
Então, por instinto, coloquei a mão sobre a espada e me preparei para o pior. De olhos bem atentos e com os ouvidos aguçados desci do cavalo e comecei a andar rumo cada vez mais para frente na estrada. Até que comecei a ouvir vozes vindo de frente.
-Se você tentar fugir vai ser pior para você. - Disse uma voz masculina forte.
-Me desculpem, deixa eu voltar pra casa, minha mãe está preocupada. - Disse uma voz quase chorando. Parecia uma garota.
Fui me aproximando aos poucos cada vez mais em direção as vozes. E, detrás de uma árvore vi três vultos no meio da estrada. Dois deles usavam mantos negros que cobriam quase todo o corpo, mascaras brancas escondendo parte do rosto e ambos armados com espadas longas. O terceiro vulto, era realmente uma garota que estava no meio deles com cara de desesperada. Com cabelos longos, cacheados e castanho, um vestido esfarrapado e bandagens nas mãos, provavelmente algum machucado.
-O que vamos fazer com ela mesmo? - Perguntou um dos caras com capuz.
-Acho que sequestra-la e depois pedir o resgate para o pai dela. - Respondeu o segundo cara de capuz. -Ouvi dizer que ele tem dinheiro.
-Não. - Gritou a menina. - Tudo menos isso. Meu pai não liga pra mim, ele nunca pagaria o resgate.
-Cala a boca garota! Já está decidido. - Disse um deles pegando a menina pelo braço e arrastando ela pela estrada.
Eu tinha uma escolha a fazer. Continuar meu caminho em frente e entregar a mensagem ao rei e ganhar um banquete. Ou me arriscar a salvar a pequena lutando contra dois caras maus armados e talvez morrer nessa floresta sem ninguém saber quem eu sou.
-Ei vocês ai!- Gritei. As vezes odiava escolher sempre ser o bonzinho. - O que acham que estão fazendo. Sequestrar crianças é um crime sério por aqui. Deixem ela em paz.
Os dois se olharam com um sorriso maligno no rosto.
-E quem você pensa que é para nos dar ordens? -Perguntou um deles.
Queria poder dizer que era um Guerreiro do Mar pois tinha certeza que eles morreriam de medo só de ouvir esse nome. Mas não tive coragem. Em vez disso, lembrei de algo que causava muito mais medo nos bandidos por essa parte do continente.
-Eu sou sir Thaus. Sou um dos cavaleiros reais de Roklua. - Gritei para eles apontando a espada.
Na minha cabeça eu estava arrasando ao dizer isso desse jeito. Mas tudo o que eles fizeram foi trocar olhares e começarem a rir. Até a pequena garota que eu tava tentando salvar estava quase rindo.
-Um cavaleiro de Roklua? - Disse um deles enfim. - Engraçado. Nunca ouvi falar de você sir Thaus.
Os cavaleiros de Roklua eram lendários. Quase tão incríveis quanto os Guerreiros do Mar. E se tornar um era restrito a apenas algumas famílias nobres ou heróis com feitos memoráveis. E visivelmente não era o meu caso.
Não quis discutir e insistir na mentira. Então parti para cima deles com a espada com quase certeza que iria acabar morrendo nessa loucura.
Ambos, ao perceber que eu estava iniciando o meu ataque correram em minha direção com espadas na mão. Um deles usava uma espada um pouco mais longa do que normalmente são e o outro carregava duas espadas ao invés de uma.
Defendi o ataque do primeiro com minha espada curta me esquivei das duas espadas do segundo. Dei um chute forte que acabou jogando um contra o outro.
Não cairão no chão, mas perderam o equilíbrio um pouco. O que me deu tempo para atacar.
Brandi minha espada para cima e mirei no peito do bandido com uma espada. Mas para minha surpresa, meu ataque foi impedido pelas duas espadas do segundo cara. Foi incrivelmente rápido e forte. Ele com um segundo movimento mais rápido ainda e que eu nunca tinha visto antes jogou minha espada para longe.
Ele apontou uma espada para mim e ficou me encarando. Vi por detrás da máscara fortes olhos azul claro e cabelos longos castanhos. Achei que eu fosse morrer nessa hora mas o companheiro dele chamou atenção para algo importante.
-A garota. Ela fugiu.
-O que? Como? -Ele começou a olhar para os lados. - Vá atrás dela seu idiota.
-Mas e esse cara ai? - Perguntou apontando a espada para mim.
-Deixa ele. - Disse se afastando de mim e guardando as espadas. - Não quero arranjar briga com os "cavaleiros de Roklua". - Não sei por que, mas senti uma certa ironia nessa última parte.
Eles saíram correndo em direção a estrada e mais para frente subiram em seus cavalos que estavam escondidos atrás das árvores.
Era um milagre. Com certeza um milagre. Não tinha como eu ter saído vivo dessa. Desabei no chão e fiquei olhando perplexo para a estrada por um bom tempo.
Até que uma voz estranha me assustou.
-Você é mesmo cavaleiro de Roklua?

...


Ajudando um desconhecido

O mensageiro capito 2

Data: Segunda-feira, 18 de junho de 241, Era dos Reis

-O... Onde estou? - Perguntou o viajante confuso depois de acordar e não reconhecer o lugar.
Rapidamente ofereci um copo de água a ele e pedi para se acalmar.
-Está em Carkas. - Respondi. -Te encontrei desmaiado em cima do seu cavalo no meio da estrada e te trouxe para cá. Os ferimentos não eram tão graves. - Menti.
-Você deu muita sorte de ainda estar vivo meu jovem. O que aconteceu? - Perguntou Dolaran atrás de mim. Chamei ele assim que cheguei porque ele entendia melhor do que eu sobre primeiros socorros.
O viajante ainda parecia um pouco confuso e demorou um pouco para responder.
-Não lembro ao certo... Acho que bandidos me atacaram... Não sei... Queriam minha... Minha bolsa! Onde ela está? -Perguntou olhando para os lados.
-Calma... Calma. Está aqui. - Disse e entreguei a bolsa para ele. Não cheguei a olhar o conteúdo, não me pareceu importante na hora, mas admito que a expressão de preocupada do jovem viajante me deixou curioso.
-Obrigado. - Ele agradeceu abraçando a bolsa. - Não sei o que faria se a tivesse perdido.
-Você é um mensageiro, não é mesmo? -Perguntou Dolaran curioso.
O jovem nos encarou cauteloso durante algum tempo mas assentiu com a cabeça.
-Preciso seguir meu caminho. - Disse ele finalmente. -Agradeço a ajuda de vocês, tenho certeza que assim que informar o ocorrido ao rei de Roklua ele os recompensará de alguma forma.
-Você não pode ir. - Disse sem olhar para ele. - Ainda não.
-E por que não? - Perguntou ele me encarando.
-A sua perna. -Respondeu Dolaran. - Quebrou em algum momento durante a viagem. Não foi nada grave, mas vai precisar repousar durante algum tempo.
O jovem se desesperou, jogou as cobertas de lado e tentou se levantar. Mas foi inútil. Tudo o que conseguiu foi move-la um pouco para o lado e dar um grito de dor.
Não cheguei a olhar para a perna dele direito. Quando encontrei parecia apenas um ferimento simples. Mas Dolaran depois de examinar o mensageiro concluiu que era bem mais do que um leve ferimento, e com certeza iria precisar de mais do que alguns dias de repouso para se recuperar. Isso se ele se recuperar.
-É incrível que tenha se preocupado tanto com essa droga de bolsa e nem percebido o próprio estado. -Eu disse encarando ele.
-Um mensageiro dá a vida para que sua mensagem chegue ao destino. -Respondeu o mensageiro tentando esconder a dor.
Ele jogou o corpo de lado caindo no chão e se apoiando na cama para se levantar. Ele provavelmente estava louco.
-Calma ai meu jovem. -Disse Dolaran segurando ele. -Você não vai sair daqui hoje. Se continuar vai acabar perdendo a perna antes de chegar ao destino.
-Eu não ligo pra minha perna. -Gritou o mensageiro. - A mensagem é mais importante.
Está bem, realmente ele está louco.
Dolaran colocou ele de volta a cama violentamente e o segurou forte até se o jovem se acalmar. É incrível a habilidade com que um senhor de idade com um braço só demonstrou ao imobilizar o rapaz.
-Se isso é tão importante pra você, deixe que meu amigo Thaus entregue a mensagem. - Ele disse depois que o mensageiro parou de se debater. -Você estava indo para Roklua não é mesmo?
-DE JEITO NENHUM! - Gritou o mensageiro. - Minha mensagem, minha responsabilidade. Eu mesmo vou entrega-la.
-Mas Dolaran... -Eu comecei. - Nunca estive em Roklua antes.
-Ah, mas você consegue. -Disse o velho com um sorriso enorme no rosto -Vi você na prova para entrar para os Guerreiros do Mar. Você é bom em lutas corpo a corpo, com espadas, é esperto e sabe se virar. Só não entrou mesmo por causa de um detalhe de nada.
-EI! VOCÊ ESTÃO ME OUVINDO? - Gritou o mensageiro e começou a se debater de novo igual uma criança mimada. -EU DISSE QUE NÃO.
Comecei a cogitar a ideia. O mensageiro a minha frente com toda a certeza não conseguiria entregar a mensagem. Na verdade, pelo que Dolaran falou ele talvez nunca mais consiga entregar nada na vida.
Mas por outro lado a viagem poderia ser perigosa. As pessoas que atacaram esse cara talvez não desistam e tentem me atacar também, vai ser uma viagem perigosa, para uma cidade que eu não conheço e passando por uma floresta cercada por criaturas assustadoras.
-Bom, parece divertido. -Eu disse pegando a bolsa do mensageiro. -Eu já vou partir.
-EI, O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? -Gritou ele. -EU VOU TE MATAR. DEVOLVA ISSO OU ...
Dolaran tapou a boca dele com a mão para que parasse de falar e me deu um sorriso.
-É melhor ir logo. Não sei quanto tempo vou conseguir segurar esse aqui.
Em respeito ao mensageiro e a sua profissão disse a mim mesmo que entregaria a mensagem e não abriria ela estando muito curioso. Até por que fazendo isso quebraria o seno nela e todo mundo saberia que eu abri.
Agradeci a ajuda do meu amigo, peguei meu cavalo novamente e parti em direção ao desconhecido.

...


sábado, 8 de setembro de 2018

Desânimo

O mensageiro capito 1

Data: Segunda-feira, 18 de junho de 241, Era dos Reis

E como se o dia não pudesse piorar isso vai la e acontece.
Já estava exausto nas últimas semanas. Passava a noite toda depois dos trabalhos na taverna da cidade bebendo e ouvindo trovadores cantando melosas músicas de amor, histórias de aventura e poemas aleatórios.
Qualquer amigo meu ou conhecido que me visse nesse estado não me reconheceria. Sempre fui muito animado, correndo, gritando e zoando a todos que via, mas agora não passava de mais um bebum depressivo fedendo a bebida.
Desde criança, sempre sonhei com o dia em que sairia dali e viveria longas aventuras viajando pelo mar e protegendo Aurix dos invasores ao lado dos Guerreiros do Mar. Assim como quase toda criança nascida no reino de Froes. Eles eram incríveis e sempre passavam aqui nesse fim de mundo pra encher a nossa mente com fascinantes histórias sobre monstros do mar, terras desconhecidas e aventuras épicas que acabavam inspirando poetas e trovadores com suas histórias.
Inclusive, estavam cantando uma dessas agora. Algo sobre uma aventura em uma ilha deserta cercada de dragões dos mares.
Não resisti e só de raiva joguei a caneca na direção da cabeça do cara que tava cantando. Um sujeito baixinho chamado Eric. Que acabou desviando facilmente.
-Ei, qual é o seu problema cara? - Perguntou o trovador descendo do pequeno palco e vindo em minha direção.
-Calma. - Disse John o meu amigo dono da taverna - ele só não esta muito bem ultimamente.
-Isso não é motivo para tentar quebrar minha cabeça. - Gritou Eric zangado. -Se não gosta das minhas músicas pode falar.
John segurou ele antes que ele acertasse a minha cabeça com o Alaúde e depois sussurrou algo no ouvido dele, que como eu estava perto acabei ouvindo também.
-"Ele esta assim por que foi rejeitado pelos Guerreiros do Mar a algumas semanas."
E era verdade. Infelizmente. Completei 21 anos em Abril e já poderia me candidatar a Guerreiro do Mar como sempre sonhei. Mas não consegui entrar por um detalhe minusculo. Eu ficava enjoado com o balanço do mar. Sério? Só por causa dessa coisinha de nada?
-Desculpa ai amigão. - Disse Eric calmamente. - Vamos tocar outra coisa. O que acha de "A cidade que tudo vê"?
-Não. Tudo bem - Eu disse me levantando. - Pode continuar o que estava tocando antes. O pessoal estava animado. Me desculpe por aquilo.
Ainda com a cabeça baixa e sem olhar no rosto de ninguém andei em direção a saída.
-Coloque tudo na minha conta John. Amanhã eu pago. - Disse saindo e fechando a porta.
Quando já estava na praça central perto de casa ouvi ao longe a música recomeçar. Até que o garoto cantava bem. Mas nem mesmo a sua animação e o violino ao fundo conseguiam me animar.
Sentei num banco de madeira ali perto e fiquei observando o mar ao longe. Enquanto o sol nascia no horizonte.
-Bom dia Thaus. - Disse uma voz atras de mim. - Como anda se sentindo?
Era o senhor Dolaran. Um velho nobre que vivia aqui na pequena cidade de Carkas. Antigamente Dolaran era um dos cavaleiros da cidade de Roklua ao norte. Mas se aposentou após perder um dos braços para uma aranha gigante na floresta (Bom, pelo menos foi o que ele diz, mas ninguém acredita). E hoje passa os seus dias pescando e conversando com os moradores.
-Estou bem Dol. Como andam as coisas? - Perguntei por educação mesmo.
-Bem, bem. Muito bem. - Invejava a felicidade daquele velho. - Tenho um trabalho para você meu amigo.
-Pode mandar. O que é? - Não estava nem um pouco com vontade de trabalhar. Mas lembrei que precisava de dinheiro para comprar mais bebida.
-Preciso de uns equipamentos novos de pesca. Ouvi dizer que inventaram umas coisas legais recentemente na cidade de Froes e queria que você comprasse pra mim. Te dou duas moedas de ouro.
Froes não era tão longe. Era a cidade capital do nosso reino, onde ficava o rei e tals. Meio dia de caminhada de Carkas. E Dolaran estava me pagando bem pra isso então até me animei um pouco.
-Esta bem. Vou pegar meu cavalo e já saio.
-Maravilha. Sabia que podia contar com você Thaus.

...



Depois de quatro horas na estrada de cavalo. Parei para descansar e comer um pouco de pão e água que tinha trazido.
A estrada tinha me feito bem. Deu para dar uma animada e estava quase aceitando o fato de que nunca seria um Guerreiro do Mar. "Bom, passar o resto da vida como entregador e vendedor de peixe não deve ser tão ruim quanto imaginei". Menti para mim mesmo. Fazer o que? Uma hora eu ia ter que acabar aceitando a realidade.
Meu cavalo relinchou e balançou a cabeça como se estivesse concordando com meus pensamentos.
-É meu amigo de quatro patas, parece que vamos continuar juntos vendendo peixe por um bom tempo ainda.- Eu disse enquanto acariciava seu pescoço.
De repente ele levantou a cabeça e começou a olhar para os lados como se tivesse ouvido alguma coisa.
E depois de um tempo também ouvi. Era o trote rápido e continuo de um cavalo se aproximando pela estrada. O que era totalmente comum já que essa era a estrada mais rápida entre Carkas e Froes.
Olhei em direção ao som e vi um cavalo negro galopando rápido como se tivesse fugindo de alguma coisa. E parecia muito assustado. Coloquei a mão sobre a espada curta que carregava e esperei ele se aproximar.
Quando chegou mais perto, percebi que havia alguém em cima do cavalo, mas estava desacordado. "Será uma armadilha?" Perguntei em pensamento. E mais uma vez meu cavalo relinchou baixo. Não tenho certeza se isso foi um sim ou um não.
Quando o cavalo chegou a minha frente estendi as mãos na frente dele, peguei as amarras e o fiz parar. O animal se apoiou nas duas patas traseiras e se levantou quase me acertando e derrubando o cavaleiro no chão.
-Calma garoto, calma. O perigo já passou. - Tentei tranquilizar dando um pedaço de pão para o animal.
O cavaleiro estava deitado no chão e continuava desacordado. As roupas eram simples e estavam todas sujas de terra e acho que um pouco de sangue. Provavelmente se meteu em uma briga com ladrões na floresta e acabou escapando por pouco. Por muito pouco.
Olhei para o meu cavalo e perguntei:
-Eai garoto. O que acha? Devemos ajudar?
Ele apenas relinchou novamente e desviou o olhar.
E infelizmente ele estava certo.

...


segunda-feira, 3 de setembro de 2018

A Cidade Slime

O Slime e o Rei capitulo 6


A luta foi fácil, fácil. Os slimes estavam todos revoltadíssimos com aqueles idiotas dos humanos que os prenderam e em menos de um minuto todos eles já estavam no chão. E o rei fez questão de mandar pra masmorra todos eles. (Embora eu ainda não saiba o que isso seja, mas espero que seja bem cruel).
Depois para comemorar fomos todos convidados ao palácio real onde o rei nos apresentou a todos os humanos por lá. Claro, alguns ficaram morrendo de medo, mas a maior parte nos acolheu bem. E por fim, redigiu um decreto na frente de todos e selado pela marca real onde dizia que os slimes estão protegidos pelo reino da Luz e qualquer um que tentar fazer mal a eles ou capturar para vender seriam punidos severamente e usou os caçadores que derrotamos como exemplo.
Foi um dia inesquecível para todos os slimes e humanos. Um dia que ficou marcado na história de ambas as raças e será lembrado por muito tempo.
Mas a melhor parte veio no dia seguinte.
O rei me convidou a voltar para a floreta, justamente para o lugar onde nos vimos pela primeira vez perto da cachoeira. Disse que tinha algo para mostrar.
-Posso saber o que tem de tão especial nesse lugar? - Perguntei. -Aqui é onde consigo relaxar. Onde consigo botar meus pensamentos em ordem. - Ele fez uma pausa e ficou olhando para a cachoeira. - Mas depois de algum tempo vindo aqui descobri uma coisa ainda mais incrível que a cachoeira. Me siga.
Ele disse pulando direto na água e indo em direção a cachoeira. Achei super estranho, mas fiz o que ele me disse. Pulei na água e fiquei boiando por um tempo. Senti minha gosma ficando mole e se misturando com a água. Realmente odiava aquilo. Mas continuei nadando em direção a cachoeira.
Foi ai que do nada o rei desapareceu. Entrou no meio da cachoeira e não vi ele mais.
-Rei?? - Chamei - Você está aí? -É só entrar na cachoeira. Estou logo aqui. - A voz dele respondeu.
Fiz o que ele disse e entrei na cachoeira e pra minha surpresa acabei me deparando com uma caverna secreta que ficava escondida atrás dela.
Estava tudo escuro ali mas o rei usava sua mão esquerda para iluminar o ambiente.
-O que tem de tão especial aqui? -Perguntei enquanto me movia de um lado a outro tentando me secar.
-Você vai ver. - Disse o rei com um sorriso no rosto e entrando cada vez mais dentro da caverna. -Me siga, o caminho é um pouco longo.
Comecei a andar atrás dele cada vez mais curioso. E assim nós fomos por mais ou menos uns vinte minutos vendo apenas a escuridão da caverna. Até que por fim avistamos uma luz no fim de toda aquela escuridão.
-É aqui. Se prepare. - Disse o rei.
Seguimos em frente e para minha surpresa, ao sair da caverna tinha um vale inteiro rodeado por montanhas e a única entrada aparente para aquele lugar era a caverna que entramos. Existiam muitas árvores de todos os tipos e tamanhos e um lindo lago cristalino no meio. O lugar era grande, muito grande. Grande o bastante para... para... uma cidade.
-Esse lugar é incrível. - Eu disse por fim.
-Encontrei esse vale a alguns anos. Mas mantive segredo de todos pois não sabia ao certo o que fazer com ele. Pelo menos não até conhecer vocês. Acho que esse pode ser o lugar perfeito para você e seus amigos construírem sua cidade. Onde nenhum humano ou outra criatura poderá incomodar vocês de novo e ainda ficarão perto da cidade Luz e poderão nos visitar sempre que quiserem.
-É perfeito. Não sei nem o que dizer. - Respondi emocionado. -Mal posso esperar para mostrar esse lugar para o pessoal.
-E claro. Toda cidade que se prese precisa do seu rei.
-Verdade. Reis são legais. Você pode ser o rei da nossa cidade, você é bom nisso.
Ele riu.
-Não. Eu já tenho minha própria cidade para cuidar.- Respondeu .-Mas não consigo imaginar ninguém melhor para isso do que você pequeno Billy.
-Euu?? - Perguntei surpreso.
-Sim. Você liderou bem os slimes na batalha no acampamento e tem guiado eles bem desde que saíram do pântano cintilante. Você tem todas as qualidades necessárias para ser um ótimo rei.
-Verdade. - Concordei com ele. - Eu vou ser o melhor reino de todos, você vai ver. Vou construir aqui a melhor cidade de todas, a grande Cidade Slime e vou governa-la e proteger todos os slimes de quem quiser nos fazer mal.
-É isso ai. Já está até falando como um rei. - Ele disse sorrindo.
Antes de voltar para a Cidade Luz dei uma última olhada e contemplei aquele lugar de novo imaginando já nossa futura cidade. Ali teria um moinho, ali fazendas, ali uma pequena padaria e ali perto daquela montanha será o castelo. E depois de muito tempo desde que saímos do pântano cintilante, eu finalmente ousei sentir esse sentimento bom chamado esperança.

FIM


Ataque ao acampamento

O Slime e o Rei capitulo 5


Estava realmente cada vez mais impressionado com essa nova espécie. Sempre acreditei que somente a realeza ou alguns dragões pudessem manipular os elementos em Aurix. Mas olha só para ele. Manipulando o fogo daquele jeito como se não fosse nada demais.
Segundo Taul e Toul os slimes que eles capturaram estavam num acampamento numa clareira na floresta, com aproximadamente mais vinte caçadores e mercenários, que era para onde eles estavam indo antes de esbararem com a gente. amarramos eles na carruagem e cobrimos com um manto longo camuflado para ninguém notar as cordas.
Nosso plano era entrar no acampamento e os atacar de surpresa e libertar os slimes presos lá antes que sejam vendidos para algum colecionador ou coisa parecida.
-Se algum de vocês dois tentar algo eu acabo com vocês aqui mesmo. - Ameacei indo para a parte de trás da carroça embaixo dos panos.
-E eu ajudo. - Completou Billy.
Relutando um pouco, os dois irmãos começaram a mover a carruagem enquanto nós dois nos escondíamos na parte de trás com uma espada encostada nas costas de quem estava conduzindo.
-Não vamos tentar nada majestade. Só.. Pense um pouco melhor sobre isso. Para sempre é muito tempo. -Disse Taul devagar.
-Não é pra sempre. É só para o resto da vida. Não ouviu ele não idiota. - Disse Billy sério. - E não pense que vai escapar assim tão fácil. Aprisionar os meus amigos é imperdoável.
Continuamos andando tranquilamente por mais meia hora e sempre que um dos dois fazia qualquer movimento suspeito aperava mais um pouco a espada nas costas até entenderem o recado.
-É aqui. - Disse Toul depois de algum tempo. -Estamos na entrada.
Espiei para fora e vi um enorme acampamento e para minha surpresa era maior do que eu esperava. Tinha várias tendas camufladas espalhadas para os lados formando um círculo e no centro uma grande fogueira onde alguns homens pareciam estar assando carne de algum animal. Um javali provavelmente.
-Onde estão os slimes?- Perguntei sussurrando.
-Na tenda do chefe.- Disse Toul. - É a maiorzinha a frente. A mais escuras.
Espiei um pouco mais e pude ver a frente uma enorme tenda camuflada como as outras mais um pouco mais escura com manchas verde e marrom se misturando com a floresta.
-O que vamos fazer? - Perguntou Billy impaciente.
Pensei um pouco. O acampamento era grande e com certeza eu e Billy sozinhos não conseguiríamos derrotar todos eles sozinhos. Mas tínhamos o elemento surpresa e isso era bom. Mas para derrotar esses caçadores precisaríamos da ajuda dos outros slimes.
Se eles lutarem tão bem quanto Billy então isso será fácil. Então já sabia o que iria fazer.
-Eu vou ser a isca. - Disse por fim. - Vou distrair todos e atrai-los para o centro do acampamento enquanto você vai pelos cantos e liberta os outros.
-Tudo bem. Parece um bom plano. Vamos lá então. - Ele disse saindo da carruagem por trás.
Era hora de começar então. Só precisava da oportunidade certa. E já sabia o que iria fazer. Aparentemente eles já tinham notado a carruagem que tinha chegado e alguns dos caçadores amigos de Taul e Toul já se aproximaram para cumprimentar os companheiros. Então precisava agir.
Discretamente e sem ninguém perceber pedi para Taul e Toul pularem para fora da carruagem que eles fizeram rapidamente e do melhor jeito que deu já que estavam com os pés e mãos amarrados ainda e saltei para frente para o lugar deles. Os outros caçadores vendo que os companheiros estavam presos correram em direção a carruagem com armas nas mãos. E tudo o que fiz foi bater com tudo nos cavalos fazendo eles saírem correndo em direção ao centro do acampamento derrubando tudo pela frente. Pulei antes deles atingirem com tudo uma cabana e quase matando um caçador que estava deitado dentro dela.
Empunhei a espada que antes era de Taul para os caçadores que se aproximavam rapidamente em minha direção.
Parece que eu tinha conseguido o que eu queria. Chamei a atenção de todos.
-Quem é você intruso e o que pensa que está fazendo em nosso acampamento? - Perguntou um homem alto e barbudo com um machado.
-Eu sou o rei Astorn. - Eu respondi levantando a mão para que todos pudessem ver marca na mão esquerda que indicava que eu era da realeza. - E vocês estão com algo que é muito importante para mim e para um amigo. Libertem agora os slimes que aprisionaram
- E o que você vai fazer se não libertarmos? Reizinho. - Perguntou outro homem enorme com machado. Acho que ele não ligava muito par o fato de eu ser rei.
Sabia que conversar não iria ajudar muito mas precisava ganhar tempo para Billy.
Percebi que um dos caçadores tinha atirado uma flecha em direção ao meu peito e desviei rapidamente para o lado. Apontei a mão esquerda na direção do atirador e lancei uma rajada de luz que passou de raspão na cabeça dele e acabou atingindo outra cabana.
-Peguem ele!!! - Gritou alguém.
E nessa hora a luta começou. Usei minha magia de luz para desviar e incapacitar primeiro os arqueiros que eram minha maior ameaça no momento e com a espada atingi alguns caçadores fazendo-os cair no chão. Nenhum golpe mortal mas fortes o suficientes para impedir que se movam por um tempo.
Mas eles eram muitos. E eu não ia durar muito naquele ritmo. Um dos caras com machado acabou acertando minha espada e fazendo ela voar longe. Mas com ajuda da magia de luz consegui cegar temporariamente ele e destruir o machado. Mas mesmo assim estava desarmado.
Eles me levaram para um canto pouco a pouco e logo me vi encurralado por espadas, machados e lanças.
-Esse é o seu fim rei. Sua cabeça deve valer muito no mercado negro. - Disse um deles.
E pouco antes de um deles tentar me acertar com uma lança. Um forte tremor sacudiu a terra e um barulho alto começou a vir da barraca onde estavam os slimes.
Finalmente Billy tinha conseguido libertar os amigos.
E em menos de um segundo dezenas de gosmas de todas as cores e tamanhos saíram da cabana e foram correndo atacar os caçadores. Lançando fogo, gelo, raios e tudo que encontravam pela frente. -Slimes amigos, atacar! - Gritou Billy correndo a frente dos slimes.

...


Os caçadores

O Slime e o Rei capitulo 4


Admito que não me aguentei. Tinha certeza de que aqueles humanos asquerosos tinham feito alguma coisa com meus amigos e não ia perdoar eles por isso.
Pulei com tudo na cabeça de do primeiro cabeçudo que apareceu na minha frente e grudei nele igual cola. Enquanto batia nele com toda minha gosmisse.
O outro idiota não sabia o que fazer. Pegou o arco e flecha e apontou pra mim mas não atirou por que estava com medo de acertar o parceiro.
-O que fizeram com meus amigos? -Perguntei estressado.
-Você logo estará junto deles aberração.- Disse o humano com arco e flecha.
Ele me pegou com suas mãos suadas, me separou do outro humano asqueroso e me jogou na árvore mais próxima com tudo. Antes de eu conseguir me recuperar fui atingido com tudo por uma flecha quase no meio do olho.
-Ninguém meche com os irmãos Tornelli. Você vai se arrepender por ter nos atacados.
-Que nojo cara. Ele me lambuzou todo. - Disse o outro (Olha só quem fala, será que ele não sente o próprio cheiro).
Tentei com todas minhas forças escapar da flecha, mas estava preso de jeito. Cadê aquele tal de rei quando se precisa dele.
-Vocês vão me pagar por isso humanos, meu amigo vai pegar vocês de jeito e vai explodir cada um em mil pedacinhos.- Eu gritei.
-Não temos medo de vocês slimes pequenos. Já estamos com dezenas da sua espécie presa e nenhum deles conseguiu nos impedir.
-Só que eu não sou um slime.- Disse o rei saindo por detrás da árvore. - Libertem agora os slimes que vocês capturaram e se entreguem e talvez, só talvez eu tenha um pouco de misericórdia de vocês.
Os dois idiotas só riram.
-E quem você está achando que é para nos dar ordens assim? Um rei? -Eles riram mais alto. Até que Taul pegou uma espada e apontou para Astorn.
-Entregue tudo o que tiver de valor e saia do nosso caminho.- Foi o que ele disse, mas o rei não pareceu se importar começou a andar na direção de Taul que por sua vez tentou desferir um golpe com a espada. Mas Astorn era mais rápido, só desviou para o lado e derrubou o humano com uma rasteira, pegando logo em seguida a espada da mão dele.
-Taul!!- Gritou Toul. Ele pegou uma flecha da aljava em menos de um segundo e já disparou certinho em direção da cabeça de Astorn.
Mas o rei foi mais rápido e simplesmente usou sua mão esquerda para destruir a flecha antes que ela atingisse ao alvo.
-Sim, eu sou um rei. -Ele disse por fim. - Sou Astorn da cidade Luz, e vocês estão no meu território.
Toul se assustou e Taul que já tinha se levantado deu um passo para trás. Não sei o que é um rei ainda mas parece ser algo muito legal.
Toul pegou outra flecha e Taul foi pra cima de Astorn com uma faca de caça que ele tinha escondido. Parece que o medo que os dois irmãos tiveram durou pouco. E já estava na hora do grande Billy ajudar também. Eu estava realmente muito irritado com aqueles dois. Usando um pouco de minhas habilidades de slimes deslizei e consegui me soltar da flecha e logo me juntei a luta.
Ataquei Toul com uma cabeçada bem no estomago e depois usei minhas habilidades com magia de fogo para incendiar o arco e flecha na mão dele deixando o arqueiro totalmente inútil.
Ele tentou me atacar só com os punhos e com chutes, mas sem sucesso. Eu não era qualquer slime eu era Billy o slime. E era mais rápido que qualquer humano fedorento. Distrai Toul com mais um ataque com fogo e pulei com tudo no queixo dele. Fazendo ele cair para trás totalmente tonto.
Astorn já tinha acabado com Taul também, acho que quebrou uma perna ou algo assim. Só sei que ele gritava de dor e xingava ele de tudo quanto é nome que eu nunca tinha ouvido falar antes.
Aproveitamos e amarramos eles numa árvore com uma corda que achamos pendurada na carruagem.
-Mas eai? Que tipo de tortura vamos fazer com eles?- Perguntei todo animado enquanto via a cara de assustado dos dois humanos que tínhamos pego.
-Esses dois...-Ele começou. - Vão nos levar para onde estão os seus amigos quando tudo estiver resolvido serão colocados nas masmorras do castelo pelo resto da vida. -(Não sei o que é uma masmorra mas deve ser bem rum pela cara que eles fizeram.
Os dois se olharam e trocaram olhares mas sabiam que não tinham mais escapatória. É isso que acontece com quem se mete com Billy o grande slime e um rei.

...


Memórias dolorosas

O Slime e o Rei capitulo 3


-Todos esses seus amigos são iguais a você Billy? -Perguntei depois de algum tempo de caminhada pela floresta.
-Não.- Ele respondeu depois de pensar um pouco. -Eu sou mais bonito. Mas temos slimes de todos os tipos, cores e tamanhos. Temos o Fred, o Clayton, o Lucca, o Padeiro, o açougueiro... Ta, admito que nossa criadora ficou um pouco sem criatividade depois de um tempo.
Dei um leve riso e perguntei.
-Quantos mais ou menos vocês são?
-Acho que uns quinhentos. Alguma coisa assim. -Respondeu sem pensar muito.
-Quinhentos???- Isso era realmente impressionante, não achei que eram tantos.- Como que eu nunca ouvi falar de slimes por essas terras.
-Me pergunto a mesma coisa. - Ele disse como se gosmas criando vida e andando por aí fosse a coisa mais normal do mundo. -Somos um povo bem pacifico. - Ele fez uma pausa, alguma coisa não estava certa com ele dava pra perceber. -Bom, a maioria de nós é. Nossa espécie está hoje atualmente dividida em três grupos. Tem eu e meus amigos que estamos procurando um lugar para morar por aqui. Temos os slimes que ficaram no pântano cintilante e criaram sua própria cidade com o Mestre e José e alguns que acabaram se corrompendo e nós expulsamos da nossa sociedade.
-Entendi. -Respondi depois de algum tempo. Era muita informação para processar. Uma raça inteiramente nova e diferente tinha simplesmente aparecido em Aurix agora. Mas ainda não tinha toda certeza se eram realmente amigos ou inimigos. Quer dizer, Billy aparenta ser legal, mas não sei ainda muito sobre os outros de sua espécie, e além do mais tinha mais uma coisa que estava me incomodando. -Sabe Billy, tem uma coisa que estou para te perguntar faz um tempo.
-Você tem muitas perguntas rei. Pode dizer, o que é?
-Perto do pântano cintilante existia um pequeno vilarejo que estava sobre meus cuidados.- Ele pareceu entender aonde eu queria chegar.- Vocês slimes e sua criadora tiveram alguma coisa a ver com o que aconteceu com ele?
-Não.- Ele disse desviando o olhar- Aquilo foi obra de um humano que apareceu por lá. Manipulador de sombras.
Sombras??? Será que foi ele? Não queria pensar sobre isso, mas no fundo no fundo já sabia a resposta, só não queria acreditar.
-Ele gostava da nossa criadora.- Billy continuou -Mas ela não. O humano não aceitou e fez coisas horríveis, coisas que...- Ele parecia realmente traumatizado com isso. Parou no meio do caminho ainda sem olhar para mim e disse -Eu não quero falar sobre isso.
Abaixei e acariciei a sua cabeça, sujei toda minha mão de gosma mas parece que acalmou um pouco o pequeno slime.
-Tudo bem. Eu acho que consigo imaginar o que você passou.
É estranho. Mas mesmo ele sendo baixinho, gosmento, azul e termos nos conhecido a menos de uma hora eu sentia que podia confiar naquela pequena criaturinha e se os outros slimes forem iguais a esse, então eu faria o possível para ajuda-los. Até por que, acho que meio que devo isso a eles.
Nesse momento Billy começou a olhar para os lados sem motivo nenhum.
-Acho que ouvi alguma coisa? -Ele disse correndo para detrás de uma moita. E pior que eu acho que também ouvi -Se esconda.
Pulei para trás de uma árvore que estava próximo, pouco antes de uma carruagem se aproximar.
Era puxada por dois cavalos marrons desgrenhados e aparentemente exaustos. Era toda feita de madeira e coberta com por uma lona branca que impedia de ver o interior. Do lugar onde eu estava não conseguia ver o rosto dos condutores mas percebi que eram dois, ambos altos e magros com roupas esfarrapadas e cabelos ruivos. Ambos carregando arcos longos e uma aljava com doze flechas nas costas.
Aparentemente eram apenas caçadores andando pela floresta. Provavelmente indo para Atrox ou para alguma cidade próxima. E por que eu estava me escondendo, eu sou o rei.
Ambos os homens pularam e desceram da carruagem e começaram a olhar para os lados.
-Ei Taul. Tem certeza que ouviu vocês por aqui? - Disse um deles enquanto olhavam de um lado a outro.
-Tenho Toul. Tenho certeza que é mais um daqueles bichos gosmentos que pegamos hoje cedo.
"Bichos gosmentos". Será que está falando de slimes. Eles estão caçando slimes. Olhei para a moita em que Billy estava e vi escondido entre as folhas um olhar irritado e pronto para atacar.
E realmente, foi só os dois se virarem em direção a moita que Billy pulou mais rápido que uma flecha em direção a cabeça de Taul.

...


Último lançamento

A melodia de Zorah

– MAJESTADE! MAJESTADE! – Gritava o guarda enquanto corria pela estrada de pedra em direção à sala do trono. Esbaforido, o guarda parecia e...